21 de ago. de 2012

Espelho, espelho meu...

Olhar no espelho e constatar que a vestimenta que adorna o corpo agrada aos olhos e até a alma é uma sensação que vai além do agradável. Até quem se diz não adepto as futilidades da moda não passa incólume ao espelho, onipresente, ele esta lá em algum cômodo, seja no quarto, no banheiro, na entrada da casa. A percepção que o espelho nos revela e a que tomamos pra si, denota a  verdadeira razão de olharmos para ele. Olhamos o quê? A beleza estética de nossos corpos, nossas roupas, ou o conjunto que ambos proporcionam? Os mais intelectuais dirão que a beleza que importa é a que ninguém vê a olho nu, mas a que sentimos, a que passamos como estado de espírito àqueles que nos rodeiam. Para alguns o olhar do espelho pode virar arte.
Ron Gilad é um artista plástico israelense, cuja coleção IX Mirrors, 9 Espelhos em português, reflete (sem trocadilhos) a percepção que temos diante de um espelho. Somos plágio ou autores de si quando nos vemos no espelho? A roupa importa mais que nossa alma? Dar valor ao estético é plenamente plausível, agora, alçá-lo a único valor pessoal como detentor de quem somos apenas pela roupa que vestimos é insistir e infelizmente corroborar naquilo que muitos que não sentem apreço pela moda acham dela, que ela demonstra o quão fúteis podem ser alguns. A moda não é apenas a que adorna nossos corpos numa escolha indumentária, revelando ideologicamente o que somos ou sentimos, ela pode ser algo além disso, algo que ultrapassa apenas a noção de beleza que temos do conceito moda. É um conjunto de valores que engloba o  social, o econômico, o estético, e hoje em dia até o ecológico. É um dos meios de se decifrar um momento histórico de uma sociedade por exemplo.   Enfim, é sempre tema contemporâneo a quem veste e a quem vê. 

IX Mirrors de Ron Gilad

IX Mirrors de Ron Gilad
E para quem se considera alheio ao fenômeno e pensa sério, moda? Saiba que nenhum ato é desinteressado. Talvez o diabo Miranda Priestly consiga te tirar dessa inércia de opinião baseada no nada e faça refletir como a moda nos cerca por todos os lados. E quem viu o filme “O diabo veste Prada” sabe que ele é engraçadíssimo.


Pra continuar a risada e pra quem pensa sair sem roupas de casa.  Li essa tira da querida Mafalda hoje:

1 de ago. de 2012

O que importa mais?

Hoje em dia não imaginamos ninguém que precise entrar em um museu de terno e casaco pra os homens ou de vestido social para as mulheres, mas o código da etiqueta social da época de Karl Marx nos idos de 1850, quando esse precisava fazer sua pesquisa para o livro O Capital, exigia que Marx usasse a vestimenta adequada para entrar no Museu Britânico. E a vestimenta adequada para tal evento era o terno e o casaco. O problema era a penúria que Marx e sua família passavam. Para escrever ele precisava de tinta e papel e como não tinha dinheiro para isso, vendia seu casaco numa loja de penhores, prática muito usada na época em que as pessoas se desfaziam de seus pertences pessoais como roupa, louça ou o que mais lhes fossem permitido vender para conseguir suprir assim as suas necessidades básicas como comida e aluguel. No caso de Marx, este precisa do papel para escrever e também do casaco para entrar no museu. Eis o dilema, o que é mais importante, o casaco ou o papel para escrever? Pergunta capciosa de minha parte, pois, para Marx ambos eram importantes em determinadas situações, a moda da época lhe obrigava usar casaco para entrar no museu, mas o papel também era fundamental, sem ele não chegaria até nós suas importantes obras. No livro, O casaco de Marx(2000) o autor, Peter Stallybrass, nos dá uma ideia da trajetória da vestimenta usada por Marx e nos remete a memória que a roupa pode nos proporcionar e a importância que damos a ela independentemente da época. Pensando em nossa contemporaneidade e nossa constante preocupação com a imagem, usamos o avanço tecnológico e a conectividade em tempo real para nos mostrar ao mundo, seja no que vestimos, no que pensamos,  através de blogs, redes sociais e os mais variados aplicativos disponíveis.  Podemos nos perguntar atualmente, o que é mais importante,  a roupa que usamos ou o nosso livre acesso ao computador e suas facilidades? Podemos fazer uso de um sem pensar no outro?
Não precisamos necessariamente sair de casa para pesquisar em museus, o acesso a internet nos dá essa facilidade,  e mesmo quando o fazemos, não há uma  regra rígida de vestimenta a seguir.     Porém, cade vez mais, a imagem de si tem se tornado um valor social, mesmo a ida ao museu rende fotos de como nos vestimos, não tanto pela importância do lugar em que estamos, mas pela estima que damos a roupa em si e o que ela nos agrega como imagem, e não como memória. 

Para saber mais:
- “O Casaco de Marx. Roupas, memória, dor”
Autor Peter Stallybrass
Editora: Autêntica

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